Banda formada em São Paulo nos anos 80 por Abrão Levin (vocal e guitarra), Renato Mello (sax e guitarra), Renato R. (baixo) e Paulo Blitter (bateria). Lançaram dois álbuns pelo Selo e loja Baratos Afins, ainda hoje é possível encontra-los por lá, inclusive uma versão em CD com os dois trabalhos.
O primeiro LP “Musikanervosa” (1986), tem a participação nas guitarras de Fábio Golfeti (Violeta de Outono) na música “Tribos da Noite” (Violeta de Outono). Atmosfera obscura, ótimas letras, resgatando a psicodelia dos anos 60, com belos timbres do post punk oitentista, além de algumas passagens de Saxofone, resultando num dos mais coesos Albums criados e belos trabalhos do Rock Brasileiro. Está entre os meus preferidos.
O segundo LP, “Obra Dos Sonhos” (1987), mudanças na formação. Linhas de sax em evidência, grooves de Jazz no baixo, suingue na bateria, tudo isso fundido ao Rock, dão tom ao trabalho, poucos elementos post punk, mas a psicodelia continua. As Letras continuam “viajantes”, trabalho com muita personalidade, embora bem diferente do 1º LP. A banda trilhava novos caminhos, mas infelismente logo após encerraram as atividades.
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Entrevista com Abrão Levin feita por mim em Janeiro de 2007:
Em primeiro lugar quero agradecer a oportunidade de entrevistá-lo e dizer que sou grande admirador da banda Kafka. Conte sobre a origem da banda, fase em que moldaram atmosfera.
Quem agradece somos nos do Kafka, por existir pessoas como voces que se dão
ao trabalho de pesquizar e conhecer trabalhos da nossa musica alternativa,
que nunca teve divulgação etc, etc...
Eu posso falar sobre a epoca que entrei no Kafka, a banda já existia antes com outra formação; Perguntem ao Renato Mello e ao Paulo Bloise que foram os fundadores,
sobre o periodo inicial;
Fui convidado para ser o vocalista da Banda e ja nos primeiros ensaios
(na Vila Madalena) o guitarrista resolveu se mandar e acabei assumindo tambem
a guitarra.
Então como voces podem perceber o ambiente era bem volatil e a banda vivia
um constante processo de metamorfose; Isso se refletia tambem nas composições
e no processo criativo, não lembro de nenhuma musica que fazia parte deste primeiro
repertorio, que chegou a sobreviver ate o primeiro disco; (pode ser que “Idade Média”
seja desta época).
Quais eram as influências da banda?
Os Quatro mundos da Banda Kafka são Abrão Levin, Renato Mello, Renato R
e Paulo Bloise;
Quatro personalidades bem diferentes com influências musicais distintas,
Porem sem duvida a cena Inglesa musical do anos 80 nos influenciou muito,
com um destaque aos grupos Joy Division, Dead Can Dance, This Mortal Coil,
Bauhaus, Eco and the Bunnymen, Siouxie and the Banshees, etc...
Influenciaram a nivel colectivo a banda.
Como foi que surgiu a parceria com o Fábio Golfeti do Violeta de Outono no álbum “Musica Nervosa” e também com o Bocato no “Obra dos Sonhos” ?
O Fabio Golfeti é muito amigo do Renato Mello e tem feito parceria com ele até hoje
tambem as bandas começaram a tocar na mesma época e nos mesmos lugares,
de uma forma natural o Fabio entendeu sem muita explicação oque gostariamos;
Com o Bocato, que era amigo do Dimas (percussionista no “Obra dos Sonhos”)
e conhecido nosso pois ele tambem gravava seus discos no selo “Baratos Afins”,
Surgiu a ideia nos ensaios, convidamos e ele topou;
Estes musicos são talentos que não precisam de muito ensaio vieram nas sessões
de gravação e gravaram de primeira!
Ao ouvir Kafka sempre tive sensação de liberdade, me soa como uma “Jam”, como era o processo de composição?
Acredite em suas sensações elas estão certas;
Todo o trabalho do Kafka foi criado a partir de Jams que a banda fazia e gravava,
para depois ouvir e organizar as ideias;
Mas não se engane, o kafka ensaiava muito e trabalhavamos muito em todos os
detalhes.
Não existe nada nos discos que seja improviso ou acidental, todos os sons, efeitos
e ideias harmonicas são intencionais.
Esta colisão do Intuitivo com o Racional, da improvisação com a premeditação,
define bem a atmosfera musical do grupo.
O primeiro álbum da banda “Musica Nervosa” tem uma sonoridade mais rock, bem o que por aí associam ao post punk, já no segundo os elementos do Jazz se tornam mais evidentes, fale um pouco sobre isso, parece ter sido uma transição natural.
Hoje realmente fica claro as diferenças entre os dois trabalhos, porem, em 88 as
coisas eram menos obvias, o proprio nome do segundo disco “Obra dos Sonhos”
contem a vontade da Banda de criar uma obra prima, esta era a nossa “Musa”
a busca do “Belo”;
As composições foram criadas pelo mesmo processo de Jams gravadas,
porem a grande metamorphose que a banda passou foi mais uma vez com
seus integrantes, o radical afastamento de Renato Mello (sax e guitarra),
quando as musicas ainda estava em processo de criação, nos levou a convidar
o Edgar Chermont (sax) sem duvida um jazzista, se isto não bastasse,
substituimos o Midi sequencer por seres humanos:
Don Dimas na percussão e Gerson Surya nos teclados.
Somando a equação um bocado de Bocato e pronto!
Acho que isto explica de maneira mais tecnica a mudança na sonoridade.
Como teria sido o terceiro álbum se tivesse acontecido?
Esta é uma pergunta que ficará sem uma resposta precisa, pois
o proprio processo criativo da banda era uma reação de Alquimía
e não podemos saber qual seria o resultado, do Nigredo ao Conúncio
Mas com certeza seria produzido pela Baratos Afins, e seria mais um trabalho
alternativo e não algo mais direcionado para o “Mainstream”
Qual sua visão da música contemporânea? O que ouve atualmente?
O acontecimento da gravação digital da InterNet e do MP3 sem duvida revolucionou,
A musica contemporânea é um resultado disto tudo;
Por um lado o custo de produção baixou e as fronteiras se ampliaram, por outro
a qualidade artistica perdeu muito da importancia que tinha...
Muito som é produzido porem escutado em arquivos comprimidos que não possuem todas as frequencias que foram gravadas...
Hoje eu tenho o meu estudio e sou defensor da escola Vintage/Digital, onde sempre
que possivel procuramos usar equipamentos originais analógicos usando o mínimo
de processamento digital.
Isto é claro para trabalhos e composições com instrumentos acústicos.
Agora um dos bons resultados de tudo isso são os novos estilos de musica eletronica
que eu particularmente gosto muito, na verdade mesmo nos anos 70 eu gostava
muito de escutar “Kraftwerk” e Giorggio;
Então com o acontecimento do techno e electro eu me identifiquei muito.
Entre outros hoje em dia tenho escutado a: Beck, Notwist, Lali Puna, Daft Punk, Console, Aphex Twin etc..
Porque a banda acabou? Há chances de uma volta?
Acho que o golpe final foi a minha saida da banda em 1990,
Mas o principal e verdadeiro motivo, é o fato do Kafka ser o resultado musical
de 4 elementos: Abrão Levin, Renato Mello, Renato R. e Paulo Bloise;
Estes são os integrantes que criaram as musicas e os conceitos do grupo Kafka;
Mesmo que o Renato Mello não tenha participado das gravações do 2 disco,
ele participou das composições.
O Kafka ainda existe e somos nos 4, na verdade nos encontramos este ano e
é grande a vontade de tocar e quem sabe produzir mais musica juntos;
Todos ainda tocam, tem um pequeno detalhe de eu não estar morando no Brasil,
mas acho que isto vai acontecer!
O que os integrantes andam fazendo no momento?
Bem, eu moro em Israel fazem 10 anos, tenho um studio de gravação
e trabalho como Produtor e Engenheiro de Som,
já o Renato Mello o Arquiteto da Banda, mora no Brasil continua tocando inclusive fez
mais uma parceria com o Fabio Golfeti recentemente,
O Renato R. Morou e tocou nos USA estes ultimos 10 anos tambem,
voltou ao Brasil este ano.
O Paulo tambem esta no Brasil continua na Batera, mas tambem é escritor com alguns
livros lançados, o nosso Psico/Intelectual...
Suas considerações finais.
Musica é meu Templo, o Kafka é o meu grupo, reverenciamos as entidades,
nosso som é a reza nosso corpo é a oferenda...
Obrigado a todos que dedicaram alguns momentos para ler esta entrevista, para
escutar nosso som;
Obrigado a voces por nos dar a graça do Tempo,
e fazer do Kafka um grupo atemporal.
Abrão Levin.